só do Mundo ninguém fala
deixa lá falar o Mundo
Que o Mundo logo se cala
Ó altas faias sombrias
Se vires passar meu bem
Diz-lhe que eu sou amada
Mas não lhe digas de quem
Altas escadas têm seu jeito
Na mais alta eu já me vi
não me importa que outra suba
Escadas que eu já desci
Se eu hoje te quis bem
Foi tempo que já passou
Se hoje para ti olho
Foi jeito que me ficou
Os meus olhos pelos teus
Têm grande simpatia
No dia que te não vejo
Já não causam alegria
Ausência tem uma filha
Que se chama saudade
Eu sustento mãe e filha
Bem contra a minha vontade
Ó Jesus Valha-me Deus
Que não sei onde estou
Ou os Astros abaixaram
Ou a Terra levantou
Se os teus olhos em mim pousassem
Eu esqueço-me do que fiz
Teus olhos dizem-me coisas
Que a tua boca não diz
Ó Olhos da minha cara
Não olhais para ninguém
Que eu não quero ter na cara
Olhos que ofendam alguém
Ó Ingrata Maldizente
não faças em presunção
andares de casa em casa
Com minha vida em Leilão
A rosa depois de seca
Foi-se queixar ao Jardim
O Jardineiro lhe disse:
"Mal de flores não tem fim"
Se as Saudades matassem
Eu já teria morrido
Elas não matam , mas moem
Fazem perder os sentidos
Vais-te embora mas não dizes:
"Adeus amor passa bem"
Ai está a primeira prova
De quem amor me não tem
As penas leva-as o Vento
Aquelas que leves são
Só as que estão no meu Peito
não as leva o Vento não
São Miguel era meu pai Santo
Santo António meu irmão
Os Anjos são meus parentes
Mas que linda geração
Tenho um amor, tenho dois
Para três não quero mais
Para que quero eu amores,
Se eles não me são leais?
Anda lá para diante
Que eu atrás de ti não vou
Não me pede o coração
Amar a quem me deixou
Açucena , flor sombria
Quis te amar, não tive arte
Se já tens amores novos,
Parabéns da minha parte
O Alecrim ao pé da água,
muita flor se desperdiça,
O Amor que não quer outro ,
não se obriga por justiça
Os olhos requerem olhos
os corações, corações
também as boas palavras
requerem boas acções
Se eu chorando restaurasse
Um amor que já perdi,
Chorariam os meus olhos
Lágrimas sem terem fim
O papel com que eu te escrevo
Sai-me da palma da mão
A tinta sai-me dos olhos
e a pena do coração
Se eu tivesse a Liberdade
Que o Sol e a Lua têm
entrava na tua casa
sem licença de ninguém
Mocidade és implacável
és o Sol da primavera
Sinto que me vais fugindo
Segurar-te ...Ó quem me dera!
O Amor é fraco e é forte
é fogo, é frio e é quente
É feliz e infeliz,
Alegre, triste e contente
Dizem que as Penas são verdes
ou azuis ou amarelas
tantas que eu tenho passado
Ainda não sei a cor delas...
Tenho dentro do meu peito
Duas escadas de vidro.
Por uma desce a paixão,
por outra desce o alívio.
Coitado do Malmequer,
Onde tu foste nascer,
Onde não haja bondade,
não pode haver bom querer.
Subi ao Céu e sentei-me,
De uma Nuvem fiz encosto,
Dei um beijo numa estrela,
Pensando ser o teu rosto
Alegre não nasce o dia
Para quem tanto mal tem,
Sem a tua simpatia,
não posso viver, meu bem.
Eu simpatizei contigo,
Cara linda, cor de rosa
é contigo que eu disfarço,
minha paixão rigorosa
Era já noite fechada,
Dizia o filho para a mãe:
"Debaixo daquela arcada,
Passava-se a noite bem."
Já tive e agora não tenho
tudo o Tempo me tem dado,
o que o Tempo dá e tira,
Custando, não tem custado.
Hei-de me ir embora e deixar-te,
como a água deixa a fonte,
Hei-de te deixar sozinho,
Sozinho neste monte
Além daquela Janela,
dois olhos me estão matando,
Mata-me devagarinho,
que quero morrer cantando.
Não me importa que eu por ti
tenha a sorte desgraçada
Quem por ti arriscar a vida,
Não pode arriscar mais nada.
As penas no ar se encontram,
Setas de fogo ferindo
A Chama anda abrasando
Quem tem seu amor tão lindo
Eu já estava para ser Freira,
Já tinha vela na mão.
Avistei o meu Amor,
Joguei a vela para o chão.
O Sol cuida que me engana....
Ele é que é o enganado!
Quando se põe, estou na cama,
E quando nasce , estou deitado.
Não sei se cante se chore
Para alívio de uma pena,
Se eu canto, tudo me esquece
Se choro, tudo me lembra
Ó vida da minha vida,
ó vida do meu viver,
para que quero eu a vida,
Se nasci para morrer?
Hei-de amar o encarnado,
Que o verde no campo nasce,
Não esperei que o meu Amor,
por outra me deixasse.
Suspirava para te ver,
já matei a Saudade.
uma Ausência custa muito,
A quem ama na verdade.
Se os Beijos espigassem,
Como espiga o Alecrim,
O Rosto do meu Amor
Pareceria um Jardim.
***
Tenho a minha camisa,
Do mais fino paninho.
Não tem costas, nem tem frente
Está rota no colarinho.
Também tenho o meu lenço,
do mais fino Algodão,
assoar-me e não me assoar,
fica-me o ranho na mão.
Também tenho os meus sapatos ,
Do melhor cabedal são,
Calçá-los e não calçá-los,
ficam-me os dedos no chão.
Já dormi na tua cama,
já mijei no teu penico,
tirei-te os três vinténs,
por isso não estou mais rico.
***
As estrelas do céu dizem-me
Que fui eu que tive a culpa,
de amar a quem me não ama,
buscar a quem me não busca.
No Deserto sem ter crime
está uma rosa em Botão,
Tem a folha meio pendida,
Está coberta de paixão.