VERSOS DO MEU AVÔ - JOÃO MARTINS GUARDA - NUM MOMENTO DE REFLEXÃO POR TER DE ABANDONAR O TRABALHO DA "MINA DE SÃO DOMINGOS" E CASA EM "MONTES ALTOS" EM 1968 COM 4 FILHOS E MULHER, POIS O PATRÃO (UMA FIRMA INGLESA) FECHOU TUDO E FOI-SE EMBORA SEM DAR NADA A NINGUÉM.
UMA HISTÓRIA SEMPRE ACTUAL:
" DA TERRA ONDE NASCI
Vou PARTIR COM MUITA PENA.
Será DEUS ,que nos condena,
não quer o meu fim aqui?
AONDE a primeira vez vi
os raios do sol dourado.
Terra aonde fui criado,
como te posso olvidar?
E faz-me pena ao deixar
mais um lar abandonado.
DESPEÇO-ME , DE VELHO E DE NOVO
E DE TODA A MOCIDADE.
É COM MUITA SAUDADE
QUE ME AFASTO DESTE POVO.
Á PROVIDENCIA SÓ ROGO
QUE POR SI SEJA ACOMPANHADO
E ME FAÇA AFEIÇOADO
DAS TERRAS PARA ONDE FOR,
PORQUE DEIXEI COM AMOR
MAIS UM LAR ABANDONADO.
AO deixar a minha terra,
para outras vou partir,
porque não posso fujir
à má sorte que me espera .
A minha idade ja não era
para assim ser obrigado
depois de velho e cansado ,
de tanto aqui trabalhar,
neste canto vai ficar ,
mais um lar abandonado.
O operário que filhos tem ,
e vive só da sua féria,
anda sempre na miséria
e nunca pode viver bem,
se de outro lado não vem,
ou um portejo aonde cave
e se alguma porta se abre ,
e este quiser ser correto ,
para assim ser completo ,
sabe DEUS o que DEUS sabe.
PARA ele a crise é imensa ,
a si mesmo pede concelhos,
e pede a DEUS de joelhos ,
muita calma e paciência.
Sofre e cala com prudência,
seu segredo em si so cabe ,
embora a dor bem agrave
a vida do operario ,
para a cruz ir ao calvário
sabe DEUS o que DEUS sabe.
TANTOS pais ,tantos filhinhos
sem rumo por ai vão
em busca do negro pão ,
metidos num mar de espinhos,
sem recursos coitadinhos.
O seu conforto acabado ,
este povo desgraçado ,
quiz assim a sua sorte ,
sofrer talvez até a morte
teu povo está condenado.
ESTA mina vai fechar.
Já não dá o rendimento.
Talvez durasse mais tempo,
se a soubessem explorar.
Não pode continuar ,
o minério está esgotado.
Já não dá o resultado ,
diz-nos o patrão agora,
e o operário é posto fora ,
e o lar abandonado.
A tua massa foi colossal ,
para a nação inglesa,
deixaste na PORTUGUESA ,
consequências e mal.
Herda agora PORTUGAL ,
algumas velhas penagens.
Já pararam as viajens ,
dos barcos do POMARÃO ,
mas são dignas de atenção ,
as tuas lindas paragens.
Continha o teu interior ,
grande porção de metais,
tinham os teus minerais,
matérias de grande valor.
Quando estavas no rigor ,
parecias ser infinita ,
oxalá houvesse a dita ,
ninguém te ver acabada.
Dizem estás explorada,
ó MINA que foste rica.
Trocaram por estéril terra ,
o teu minério precioso ,
e o teu metal mimoso ,
que tanto valor te dera ,
e agora chamam-te bera ,
por te roubarem o ouro..
Já antes o fez o mouro ,
que encontrou o teu stok ,
do teu enorme bloque ,
roubaram-te o teu tesouro.
AINDA há grande riqueza ,
que em ti esconde ó mina.
Aí fica essa nobreza ,
com água na sua pureza ,
o cobre aí se fabrica ,
escoando como por bica.
Sem mais labor nenhum dentro ,
acaba-se o movimento ,
tão pobre que agora fica."
ca. 1968 de JOÃO MARTINS GUARDA
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